segunda-feira, 7 de março de 2011

Cartas via IYS

Estava mexendo nas caixas, onde estão guardados as minhas coisas e acabei achando algo interessante. Uma pequena pasta com cartas e mais cartas. Na verdade era para ser uma pasta de selos, mas depois de um tempo, fiquei com pena de cortar os envelopes e fui guardando todas as cartas que eu recebia. Foram bem poucas cartas, como a foto abaixo mostra...



Como mencionei anteriormente, na era pré-internet, existiu uma associação Finlandesa, chamada IYS - International Youth Service. Surgido anos depois da segunda guerra mundial e que consentia em amigos por correspondência. Os idiomas da associação eram Inglês, Francês, Espanhol e Alemão. Inglês, pela influência da Inglaterra (o império que o Sol jamais se põe, cuidou muito bem de difundir seu idioma) e EUA. Espanhol, pelo simples fato de quase todo o continente americano falar espanhol. Francês, pela influência cultural que a França teve (além de suas colônias na África e Ásia). E Alemão, pela influência que a Alemanha e Áustria tem sobre a Europa Central e Oriental (vale lembrar que a Europa Central e Oriental eram quase todos territórios destas duas nações no começo do século XX).


Voltemos as cartas. Hoje é raro mandar cartas, não posso negar que as vantagens de mandar um e-mail são muito maiores, além de ser quase instantâneo a entrega da mensagem. Você não precisa esperar um ou dois meses, para receber uma resposta. Nem ficar rezando para o correio não extraviar sua carta. Eu mesmo tenho mais de um e-mail (um do trabalho, um pessoal, um para assuntos de viagens, um dedicado só para algumas pessoas). Mas algo que não vejo mais hoje, é o cuidado e a dedicação ao fazer uma carta. Um e-mail pode até ter aquelas imagens e animações bonitinhas, feita no computador (quando não foram simplesmente copiadas de algum lugar). Enquanto ao reler as várias cartas que eu tinha guardado, fui vendo que as pessoas com quem eu me correspondia, tinha o cuidado de escolher o envelope, além de papel de carta e outros detalhes. Cada carta era única e por isso, tinham todo este cuidado. Claro que isso as minhas amigas mulheres, as dos meus amigos homens, não eram assim tão cuidadosos. Mas ainda assim, davam atenção.



Relendo as cartas, dava para eu ver como mudei, desde as primeiras cartas para minha situação de hoje. Como era divertido e simples as coisas da vida e o que cada um de nós fazíamos. O medo de escrever em um idioma que alguns de nós, estávamos aprendendo e outros a tinham como língua materna. Procurando sempre escrever de forma que fosse compreensivo e interessante para o outro. Lembro de passar horas e horas com um dicionário do lado e um livro de gramática alemã do outro. Medo de errar. Não entender algumas palavras e olhar o dicionário para tentar compreender o significado. Foi uma experiência única na minha vida.

Cartões de natal, de aniversário, cartões postais, cartões telefônicos para colecionar e outras tantas lembranças e presentes (foi assim que comecei a conhecer música polonesa e alemã). Assim como foi via correio, que eu pude comer pela primeira vez um chocolate suíço. Ou a minha primeira correntinha, foi via correio, que ganhei de presente de aniversário. Mandei muito CD de banda e cantores brasileiros, para estas pessoas, bem como outros presentes. Me sinto até com vergonha de ter mandando uma barra de diamante negro, comparado com o tipo de chocolate que eu ganhei. Lembro de quando tentei traduzir um jornal, com notícias do Brasil, para ajudar uma colega em seu trabalho de escola. Além é claro de procurar sempre tirar fotos e enviar cartões postais.
São lembranças que tenho guardado.

Mas como todos crescem e as responsabilidades aumentam (trabalho, estudo, família, etc), acabei perdendo contato com a maioria (na verdade todos). Pois escrever em outro idioma, fazer estas coisinhas cuidadosas e dedicadas, ir no correio, pegar fila e esperar alguns meses de resposta, ocupam um tempo considerável. E acabei deixando de lado. Até trocamos alguns e-mails, mas ainda era o começo da internet (MSN era uma novidade, o sucesso era ICQ). Mas achei alguns e-mails, anotei alguns endereços e perdi um bom tempo, pesquisando no google, facebook e mandando e-mails e até o momento, consegui contato com duas pessoas. E já estamos nos programando de fazer uma visita e voltar a colocar o papo em dia.
Afinal, temos cartas de 1995 até 2003 e são quase 8 anos sem contato. Muita coisa aconteceu. E eu ainda pretendo escrever para os endereços das pessoas que eu não achei e-mail e esperar para que estejam na mesma casa. Sei que alguns não estarão. Outros podem nem está mais vivos (como um amigo do Sri Lanka, que perdi contato devido a guerra civil e depois do Tsunami de 2004 não tive mais notícias). Mas não custa tentar achar e ter notícias. A esperança é a última que morre. E já estou feliz, por ter encontrado alguém e já combinando de visitar.




Pode ser que eu não veja todos agora, mas farei o possível para ver aqueles que eu consegui algum contato. Por enquanto só confirmei com uma amiga da Suíça (uma das mais antigas e a que eu mais tenho cartas). Afinal, os tempos são outros e agora todos temos responsabilidades e sei que não será fácil e nem temos muito tempo livre. Mas já estamos fazendo um esforço para nossas agendas coincidirem e aproveitar o tempo.
Mas ainda tenho que ver se consigo contato com amigos do Sri Lanka, Alemanha, Polônia, França, Luxemburgo, Bélgica, Portugal, Finlândia, EUA e Inglaterra. Pode demorar um, dois, três ou mais anos. Mas se eu ficar parado sem fazer nada, ninguém fará por mim. E ter notícias de pessoas que marcaram sua adolescência (1995 a 2003 - 8 anos de sua vida) é algo que acho que vale a pena. Mesmo que só tenham um ou dois dias livres para passear com você e mantenha contato via e-mail. Mas sempre terá a chance de você visita-los outras vezes, assim como poderão visita-lo no futuro.

Além de ser um ótimo motivo para viajar. =D


P.S.: O endereço que consta nas cartas, não é mais meu endereço. Assim como faz anos que eu não uso a caixa postal que consta em algumas cartas.

Um comentário:

  1. que interessante se corresponder com pessoas de outro idioma!

    vc desde novinho apaixonado pelo alemão ;p

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